A Freguesia criada a partir de Abril de 1809.

Atualmente estou pesquisando a origem e desenvolvimento do bairro paulistano de Santa Ifigenia, criado a partir de reivindicações das Irmandades de Santa Efigenia e Santo Eslebão (Santos Pretos promovidos pela Igreja Católica para atrair as pessoas afrodescendentes libertas ou ainda escravizados no Brasil Colônia).

As Irmandades de Eslebao e Ephigenia sentiam-se desconfortáveis abrigadas pela Irmandade mandatária de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos na Igreja Matriz no Largo do Rosário, onde hoje é a Praça Antônio Prado, reivindicaram em 16 de abril de 1768 pelo Juiz da irmandade Ventura de Moraes, sua própria igreja. Reivindicação que foi atendida pela Câmara de vereadores, com a destinação do terreno próximo do “Tanque do Zunega” atual Largo do Paiçandu. Segundo publicação do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo, as imagens dos dois santos foram levadas ao novo templo ainda bem modesto em 1784, e a primeira Missa em Homenagem a Princesa Nigeriana Ephigenia e ao Rei da Etiópia Eslebão (canonizados) está registrada em janeiro de 1795.

Meu propósito é buscar informações sobre um provável “estigma” da degradação desta região que, ainda nos dias de hoje é referida como insegura e decadente. Também me interesso em identificar os vestígios do racismo institucional implementado e cultivado por parte das autoridades oligarquicas desde sua implantação na segunda metade do séculoXVIII, e especialmente após a grave recessão mundial de 1929.

Em 21 de abril de 1809, a Câmara por interesse de gestão administrativa, consegue o alvará para tornar uma nova Paroquia a então Capela de Nossa da Conceição de Santa Ephigenia, estabeleceu-se assim, pela pena do Bispo Dom Mateus de Abreu Pereira, a Freguesia de Santa Ifigenia, a terceira cidade (distrito), após a Freguesia do Ó, e a da Penha, ambas em 1796, delimitando-seas divisas da nova jurisdição com a condição Paroquial para registro oficial de casamentos, nascimentos e óbitos.

A Rua Santo Elesbão foi criada e aberta em 1809, pelas Irmandades afrodescendentes, e ligava o aquartelamento do Tenente-General José Arouche de Toledo Rendon ao Convento Nossa Sra. da Luz (hoje Museu de Arte Sacra). Em 1865, o nome da rua mudou para “Aurora“, e mais tarde, em 1875 já era considerada uma das principais vias de ligações entre as Ferrovias e para a estrada para Pinheiros.

Ela já havia mudado de nome para Rua Aurora quando Mário de Andrade nela nasceu em 09 de outubro de 1893.

Na verdade a mudança que ocorreu em 1865 foi por decreto da Câmara dos vereadores de São Paulo, para homenagear os “Triunfos” da sangrenta Guerra do Paraguai.

Em 1894, diante da avassaladora epidemia de febre amarela (entre outras doença graves) concentrada principalmente nos populosos e insalubres cortiços e precárias moradias nas Rua dos Gusmões, Aurora, dos Protestantes, General Osório, Santa Ifigenia. As autoridades iniciaram forte campanha de saneamento básico que foi organizado e desenvolvido a partir do participação do brilhante Engenheiro baiano Teodoro Sampaio (1855- 1937) que chefiou a equipe que produziu o Relatório da Commissão de exame e inspecção das habitações operarias e cortiços no Districto de Sta. Ephigenia – 1893.

O documento se debruça sobre as condições de proliferação de doenças nas habitações populares no bairro, após uma epidemia de febre amarela. A atuação dessa comissão é um marco nas ações públicas na área do sanitarismo e do higienismo na capital paulista.

A história da Freguesia de Santa Ephigenia é um enredo repleto de informações que a cada fato descoberto vão se conectando e aos poucos, nos permitindo entender o panorama atual do bairro Santa Ifigenia e imediações, invariavelmente acometido em crises sócio-econômicas.

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